Eu, sozinha..por Beatriz Zanzini

Eu estava rodeada de gente sorrindo, falando alto e se fartando com aquela mesa repleta de comidas e bebidas. Por mais que o barulho das vozes fosse absurdamente alto, eu conseguia me desligar dele com facilidade, porque só conseguia prestar atenção na dor pulsante que eu sentia em meu coração. Tentei disfarçá-la com uma boa maquiagem no rosto, um vestido bonito e expressões alegres e forçadas. Não sei se obtive êxito, mas pelo menos eu tentei... Fiz até uma viagem com as amigas, fui conhecer um lugar novo e experimentar coisas inéditas na tentativa de te esquecer. Confesso que me peguei chorando por dentro diversas vezes em meio àquele mundo de copos cheios, decotes à mostra, beijos insinuantes e música alta. Mesmo assim, guardei a dor no bolso, fui dançar e tentar me divertir, mais uma vez para tentar te esquecer.
E então eu cansei e fiquei ali, sentada, sozinha e pensando no quanto você me fazia falta, no quanto eu ficaria feliz se de repente você me ligasse para desejar um feliz natal ou um feliz ano novo, acompanhado de um "estou com saudade". Eu não tinha dúvidas de que o maior presente que eu poderia receber naquele final de ano era ter você de volta na minha vida, e eu rezei para que isso acontecesse durante muito tempo.




E aí o tempo passou e faz mais de um ano que isso aconteceu... Lembro-me que eu ficava tentando adivinhar como eu estaria no próximo natal e no próximo réveillon. Cogitei que estaria feliz ao seu lado, com tudo resolvido e bem definido, como eu acreditava que era antes do término. Também cogitei que eu estaria com outra pessoa, alguém incrível que me fizesse ter a sensação de que valeu a pena sentir toda aquela dor que o nosso fim me causou, porque só assim eu estaria pronta para um relacionamento melhor e muito mais sólido.
Enfim, cogitei diversas hipóteses, mas não cheguei nem perto da que realmente aconteceu: eu, sozinha, sem nenhum sinal de paixão ou amor por algum cara, nem mesmo com aqueles casos em que existe a sensação de que há alguém disponível pra você. 
Eu, sozinha, sem nenhum resquício de vontade de te ter de volta, de ainda te amar ou de sentir a sua falta. 
Eu, sozinha, sabendo há muito tempo que você já estava em outra, e que hoje é muito mais feliz com ela ao seu lado do que foi comigo. 
Eu, sozinha, sabendo que aquele fim foi mesmo definitivo e que você jamais vai me mandar uma mensagem, me ligar ou aparecer, nem no natal e nem nunca mais. 
Eu, sozinha, renovada e sentindo uma paz e uma calma aqui dentro que surpreende a mim mesma. 
Eu, sozinha, comemorando aquela conquista que eu sempre quis ter, mas que você me dizia que era apenas um sonho bobo que jamais deveria ser levado a sério. 
Eu, sozinha, percebendo que não preciso de você e nem de nenhum cara incrível ao meu lado para entender que a vida é mesmo muito boa e que vale a pena ser vivida com o máximo possível de intensidade... Aliás, incrível mesmo fui eu, que tive que buscar sozinha a verdade para levar um tapa na cara e, mesmo com o coração em pedaços, reaprender a viver sem ninguém ao meu lado. 
Incrível mesmo fui eu, que mesmo machucada, reagi e fui atrás do que eu queria, do que eu acreditava, do que eu merecia. 
Incrível mesmo fui eu, que recomecei do zero e fui à luta mesmo com aquela ferida aberta, mesmo com o medo de cair mais uma vez. 
Incrível mesmo sou eu... que estou aqui agora, rodeada não só de gente, sorrisos, comidas e bebidas, mas também de um amor pela minha vida que me envolve por completo e de uma força que me mostra que eu sou capaz de enfrentar qualquer coisa, incluindo a sua ausência... Sem precisar de disfarce algum desta vez.
Incrível mesmo sou eu, que finalmente entendi que tudo é passageiro, que para toda dor existe cura e, principalmente, que o importante é que eu nunca estarei sozinha e nunca deixarei de me amar... porque o que vem de fora pode até me tornar mais forte e me trazer sabedoria (mesmo que seja de uma forma dolorida), mas a minha felicidade somente eu sou capaz de me proporcionar.

(E então me pego aqui, sozinha, fazendo um brinde às minhas conquistas, me orgulhando do meu amadurecimento, aproveitando a presença daqueles que vale a pena estar por perto e agradecendo a ausência de quem um dia me feriu, mas também me fortaleceu.)

Beatriz Zanzini 







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6 comentários

  1. Adorei o texto, realmente não devemos permitir que a dor se torne constante, ela é importante sim para o nosso crescimento e quando ela é superada é ótimo rs.
    Beijos

    http://diadespa.blogspot.com.br/

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  2. Gostei bastante do texto. É muito bom saber que temos alguém do nosso lado. Mas realmente a nossa felicidade só depende de nos mesmo.

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  3. "Eu, sozinha, percebendo que não preciso de você e nem de nenhum cara incrível ao meu lado para entender que a vida é mesmo muito boa e que vale a pena ser vivida com o máximo possível de intensidade... Aliás, incrível mesmo fui eu, que tive que buscar sozinha a verdade para levar um tapa na cara e, mesmo com o coração em pedaços, reaprender a viver sem ninguém ao meu lado. "
    Cara que texto incrível!

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