A acusada de cometer atos racistas durante uma
partida de futebol no Sul do país excluiu seus perfis das redes sociais uma
hora depois de ter o rosto divulgado na mídia. Esse intervalo de tempo foi
suficiente para que as suas informações pessoais caíssem na internet, e o
inquérito policial a respeito do caso restasse dispensado pela opinião pública
que já havia decidido a punição para o crime: um p* no seu c* (legenda que
acompanhava a sua foto e que foi, incessantemente, compartilhada) e a janela de
sua residência apedrejada no dia seguinte à partida.
A jovem torcedora de 23 anos chamou um jogador
negro de “macaco”, e seus gritos se misturaram a outros tantos, formando um dos
tristes espetáculos racistas da nossa sociedade, a qual, por adesão sumária ao
influente discurso midiático se considera “toda macaca”, mas que não dispensa
uma oportunidade de revelar o quanto o peso histórico da escravidão e do
preconceito estrutural prosseguem indissociáveis ao cotidiano. Ao contrário de
abrir espaço para um debate proveitoso e elucidativo sobre o tema, o racismo da
torcedora apenas revelou a densidade e extensão dos preconceitos nos quais
vivemos imersos, os quais inviabilizam a desconstrução de qualquer um deles
isoladamente. Seguindo a lógica do mesmo sistema que mantém o racismo presente
nas manifestações mais sutis da vida diária, muitas pessoas decidiram insultar
a torcedora através de expressões usuais do machismo. “Vagabunda”, “vadia” e “merecia
um p* no c*” não criticaram o condenável racismo da moça, e sim a sua condição
de mulher, a qual, cometendo erros ou não, será aviltada pela sua conduta
sexual e reduzida àquilo que é possível fazer com o seu corpo, este tratado
como um espaço tão público quanto um estádio de futebol.
As últimas notícias a respeito do caso informaram que não só essa moça, mas outras pessoas também foram filmadas expressando seu racismo através de xingamentos, e todos terão de prestar esclarecimentos à Polícia. Ainda assim, apenas a jovem torcedora está sendo obrigada a se esconder do linchamento público, e a sua imagem está sendo tratada como alguma espécie de personificação do racismo brasileiro. Em mais um momento, a sociedade se mostra desastrosamente rasa e pueril em suas apressadas e irrefletidas constatações: ao eleger um bode expiatório de todas as culpas e males, livra-se do exercício difícil e doloroso de reconhecer as próprias falhas e iniciar um esforço de reconstrução do pensamento. Ao contrário do que pensam alguns que se defendem prontamente de qualquer ameaça ou acusação, colaborar com o racismo não é só xingar alguém de “macaco” a plenos pulmões, mas também se omitir diante de qualquer injúria e aceitar os benefícios relacionados à sua cor naturalmente como se eles não fossem um subproduto de um sistema injusto e cruel.
As últimas notícias a respeito do caso informaram que não só essa moça, mas outras pessoas também foram filmadas expressando seu racismo através de xingamentos, e todos terão de prestar esclarecimentos à Polícia. Ainda assim, apenas a jovem torcedora está sendo obrigada a se esconder do linchamento público, e a sua imagem está sendo tratada como alguma espécie de personificação do racismo brasileiro. Em mais um momento, a sociedade se mostra desastrosamente rasa e pueril em suas apressadas e irrefletidas constatações: ao eleger um bode expiatório de todas as culpas e males, livra-se do exercício difícil e doloroso de reconhecer as próprias falhas e iniciar um esforço de reconstrução do pensamento. Ao contrário do que pensam alguns que se defendem prontamente de qualquer ameaça ou acusação, colaborar com o racismo não é só xingar alguém de “macaco” a plenos pulmões, mas também se omitir diante de qualquer injúria e aceitar os benefícios relacionados à sua cor naturalmente como se eles não fossem um subproduto de um sistema injusto e cruel.
Repudiemos o ato racista no estádio de futebol,
porque isso é justo e necessário, mas tenhamos a hombridade de reconhecer que a
aniquilação dos preconceitos não é proporcional à nossa fúria nas redes
sociais, e sim ao esforço de mudança maduro, refletido, sincero e diário. Se
não for assim, nossa raiva será apenas reflexo de uma cultura midiática ansiosa
por novos casos polêmicos, e o preconceito repudiado permanecerá firme na
intersecção com os demais que, sem perceber, continuamos defendendo
orgulhosamente.
Texto por: Liziane Edler, do blog Licença para o imperfeito
Foi muito triste mesmo e horrivel o que aconteceu!
ResponderEliminarBeijos Jéssica R. Coelho
Eu também achei muito triste, Jéssica, mas acho que a discussão sobre racismo que se seguiu ao caso foi muito válida! Fez todo mundo repensar um pouco o próprio comportamento...
ResponderEliminarObrigada por comentar!
Beijos!
Achei uma atitude ridícula da moça!
ResponderEliminarNão aceito discriminação de espécie alguma!
Bjus e bom final de semana
http://www.elianedelacerda.com
Realmente, Elyane, ela errou e deve responder pelo ato, porém, todos devem repensar suas atitudes, já que a sociedade, como um todo, ainda se mostra bastante racista.
ResponderEliminarBom final de semana para você também!
Beijos!
triste isso né, aff
ResponderEliminarBjuuuuuu umabonecamasnaodeporcelana.blogspot.com.br
É mesmo, Juliana...
ResponderEliminarObrigada por comentar!
Beijos!