#LerNoCeará, conheça Bruno Paulino

Mais um post sobre o projeto LerNoCeará, hoje vamos conhecer o escritor Bruno Paulino.



BIOGRAFIA

Quixeramobinense, graduado em letras pela UECE, nascido em 10/05/90.
Autor dos livros de crônicas  “A Menina da Chuva” e “Lá nas Marinheiras”, o escritor  e professor de Língua Portuguesa da Rede Pública de Ensino, Bruno Paulino, é uma das referências quando se fala em Literatura no Sertão Central do Ceará. O seu livro mais recente, “A Menina da Chuva”,  lançado pela Editora Premius, é repleto de referências à infância. Com textos simples e curtos, que lembram a delicadeza da natureza, já é adotado em várias escolas particulares da região.




A Menina e sua Chuva. Pelo Professor de Literatura Sesbatian Silva (atualmente na UVA).
A Menina da Chuva (2013, Premius) é a segunda coletânea de crônicas lançada por Bruno Paulino. São vinte e oito textos que nos levam a refletir sobre temas como amizade, bicho de estimação, família, fé, felicidade, infância e tutti i quanti. Apesar da epígrafe extraída da saga rosiana Grande Sertão: Veredas (“tem horas em que penso que a gente carecia, de repente, de acordar de alguma espécie de encanto”), A Menina da Chuva mergulha-nos em um mundo de encanto abordando, com olhos infantis, aspectos de nossa condição humana como que despertada para a eterna novidade do mundo. O primeiro dos textos é o que dá nome á coletânea. Somos, então, apresentados à ‘menina’:“Debruçada na janela, olhava solitária os pingos que escorriam. Sentiu o cheiro da chuva que a levou de volta á infância. (...) Lembrou-se dos banhos de chuva com outras crianças, na sua cidadezinha natal, no pátio da igreja matriz com suas bicas de jacarés jorrando água pura. Bateu-lhe uma imensa saudade daqueles dias”. E como ela reage a esta RechercheduTempPerdu?, vejam:“Uma vontade de correr para a rua invadiu-a. Precisava sentir a chuva. (...) Caminhou até a porta e saiu. E as gotas d’água misturavam-se nas mechas de seus cabelos feito confete em baile de carnaval. A água que corria pelo seu corpo ia (...) deixando-a com a momentânea sensação de felicidade, como se ainda fosse aquela menina interiorana – que agora recordava, brincando, dançando feito bailarina, fazendo festa na chuva.”Chico Buarque diria que “ela desatinou” e acabou “cantando no toró”. O texto seguinte, O Retrato, dedicado á Ângela Gutiérrez, dialoga com o poema Retrato, de Cecília Meireles (1901-1964). A mulher lidando com a passagem do tempo. As marcas que ficam daquilo que se foi...
Quando um homem tem um cachorro, pode servir de paralelo á When a manloves a woman, canção romântica lançada em 1966 e composta por Calvin Lewis e Andrew Wright. Deste texto eu destacaria a seguinte passagem: “Embora ele [Sherlock, um husky siberiano] tenha total liberdade de escolher os caminhos, eu que tomo posse da coleira, e essa suposta superioridade não fere nossos laços de amizade.” Bela lição nestes tempos do hipocritamente correto... O Santuário de Minha Avó nos leva á uma época de criação de valores, principalmente os espirituais. O texto nos apresenta a avó como uma “uma mulher bem brasileira, jeitosa, levemente vaidosa” que “gostava de viajar, visitar os parentes” e “era boa anfitriã que recebia todo mundo bem”. “Sábia e eficiente” sendo uma “mulher de muita fé”, “instruiu os próprios filhos no caminho religioso”. O velho e o rio nos evocaO Velho e o mar, de Hemingway (1899-1961), a Terceira margem do rio, de Guimarães Rosa (1908-1967) ou, se preferirem, O velho Francisco, de Chico Buarque. Desenvolvido, daria um belo conto... Um corrupião, retoma a temática do bicho de estimação. Desta vez um passarinho que, a principio criado à base de frutas, num fatídico dia falece deixando em seu dono a suspeita de que morrera por obesidade.Um sonho azul, conduz-nos uma espécie de Pasárgada pessoal do autor:“...um sonho de sonhador ingênuo que enche a alma de esperança, sonho sem pé nem cabeça do jeito maluco que eu gosto de sonhar, do jeito que é bom sonhar”. Minha pequena Alice é sobre a chegada de um novo membro da família.O menino que virou passarinhopoderia também chamar-se O aprendiz do assovio. Um garoto que de tanto ouvir um passarinho aprende a assoviar. Odiar é inútil é uma analise da personagem Diadorim, de Grande Sertão: Veredas á luz de um dos mais lúcidos pensadores brasileiros Nelson Rodrigues.Da arte de reconhecer amigos nos fala sobre como a saudade nos leva a reconhecer amigos.Gente gentileza trata de como “gentileza gera gentileza” evocando de Francisco de Assis a Martha Medeiros (não necessariamente nesta mesma ordem). Aquela fé nos mostra “aquela fé dos sonhadores incorrigíveis, que apostam tudo num lance, na vida, no destino”.O jeito de ser feliz é uma reflexão sobre o que é e como conseguir ‘essa tal felicidade’. A conclusão é que “ser feliz é simples, ser infeliz é que dá trabalho”.Cativando livros, cativando pessoas é um relato de leitura do famoso clássico de Saint ÉxuperyO Pequeno Príncipe. Saudades e cabelos brancos é o mais extenso texto da coletânea. Aborda o tema da velhice á semelhança de ORetrato.Sobre videogames e namoradas é uma analise da relação de um cara com seu videogame tendo por paradigma a relação de Manuel bandeira e seu porquinho da índia. Seremos todos zumbis fala-nos da escravidão a que nos submetemos em relação á tecnologia. Morte, riso e cemitérios reflete sobre a fragilidade de nossa condição de meros mortais ironicamente unidos... na morte.Acontecências é uma reflexão sobre o sentido da vida.Madrugadas insones relata as reações de alguém quando se encontra insone.Por entre bonecas de pano e palhaços macabros é a confissão do autor sobre qual escritor o atraiu para a leitura. Por meio de livros “povoados por crianças assassinas, palhaços macabros e hotéis mal-assombrados”.Noturno retoma a temática da insônia e o que fazer diante disso. Nunca mais aborda a morte em face do olhar de uma criança. Marcando páginas fala-nos sobre leitura. Alvinegras lembranças nos conta a gênese da paixão do autor pelo futebol.O começo do amor busca descrever o surgimento daquele que é considerado o maior sentimento humano. A cidade antiga, o texto que fecha a coletânea, bem poderia ser um capítulo de Um sonho azul.
Tal qual a personagem da mitologia grega Dânae, nossa Menina da Chuva fecunda-nos a imaginação com encanto e sensibilidade, que fazem valer a velha sentença que diz: ‘quem sai na chuva é para se molhar’. Penso que este opúsculo se assemelha àqueles momentos realmente grandes que o destino faz chover em nossas vidas; estes momentos grandiosos não são datados, não tem hora para acontecer.

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