O exercício do desapego e o projeto Pegai

Como já dizia Monteiro Lobato, um país se faz com homens e livros, e não é à toa que essa é a palavra motivadora e alavanca de um projeto super legal que venho, no meu artigo de estréia, contar um pouquinho para vocês,  O Projeto Pegaí, que já está inclusive na boca do povo e na mídia de Ponta Grossa, Paraná, saindo em matérias impressas e em redes locais de televisão.


Muitos de nós, talvez por conta de nossa cultura, temos mania de guardar objetos, qualquer que seja, em armários, gavetas, e estantes. Mas o que acontece quando nos apegamos a algo que, mesmo sabendo que não voltaremos a mexer nele ou, nesse caso, a lê-lo? Isso mesmo, estou falando sobre montanhas de livros que orgulhosamente ostentamos em nossas estantes como troféus a serem expostos por sermos leitores.
E é justamente ai que entra o tema do texto que estou escrevendo hoje
Histórias são criadas para serem lidas. Uma, duas, três, centenas de vezes, então, porque deixar nossos livros hibernando em estantes quando o melhor é compartilhar com quem ainda não leu e ajudar a enriquecer culturalmente nossas crianças, jovens e adultos?
Foi pensando justamente nisso, que o idealizador do projeto, o professor universitário,  Idomar Augusto Cerutti, tomou a iniciativa de levar esse projeto adiante, e o que antes era uma idéia, virou uma realidade para muitos pontagrossenses.
Mas eu vou deixar que ele próprio, o autor dessa iniciativa que está crescendo com a colaboração de muitos de Ponta Grossa, conte como tudo começou.

1- Como e quando surgiu a idéia do projeto?

Sempre quis fazer algo no sentido de troca de livros na universidade que leciono, mas não arranjava tempo para implementar. Em março de 2013 eu assisti uma reportagem no jornal nacional da Globo, onde mostrava um grupo de motoboys que tinha feito uma “bicicloteca”.
Eles levavam livros para uma praça numa bicicleta e distribuíam para os leitores, então pensei - “se eles podem porque não podemos fazer também?”-
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2- Como as pessoas (familiares, amigos etc) encararam a idéia do projeto?

De uma maneira geral todos acham a proposta muito boa, útil e que traz bons resultados.

3- Como você fez as primeiras divulgações e recebeu as primeiras doações?

Em maio de 2013 iniciei uma campanha com amigos solicitando doação de livros de literatura, via email e redes sociais, sem explicar muito o que seriam feitos com os livros. Dia 03 de Julho de 2013 realizamos nossa primeira PEGADA CULTURAL com 330 livros dentro dos Supermercados Tozetto, que é parceiro do projeto. Foi um sucesso

4- Hoje você conta com quantos voluntários\ parceiros para o projeto?

Mais de 100 voluntários e mais de 45 empresas e entidades parceiras.

5- Você encontrou dificuldades para por em prática o projeto?

Muitos problemas e dificuldades ocorreram e ainda ocorrem, por exemplo, nossos livros poderiam ser vendidos nos Sebos (lojas de livros usados) e o pior, o dinheiro poderia ser usado para compra de droga por dependentes químicos, isso me deixou muito nervoso no inicio, quase inviabilizou o projeto, Nesse momento decidimos que os livros seriam carimbados e entramos em contato com as lojas de livros usados para formar uma parceira com eles, para que eles não comprassem nossos livros. A parceria foi aceita e funciona muito bem.

6- Me fale sobre a pegada cultura?

Pegada Cultural é um evento itinerante de disponibilização de livros que é feito em locais públicos de grande circulação de pessoas, por exemplo feiras do produtor, praças, calçadão, onde levamos uma estante, 200 livros aproximadamente, alguns voluntários e deixamos que os leitores “saboreiem” nossos livros.

7- Quais os requisitos para doar?

Dois requisitos básicos:
1.    Tipo dos livros, apenas livros de LER não livros de ESTUDAR, essa definição recebi de uma garotinha de 10 anos quando estava numa escola explicando que NÃO aceitamos dicionários, enciclopédias, livros técnicos, bíblias, manuais, apostilhas;
2.    Os livros devem chegar até nós. No site do Pegaí tem nossa lista de pontos de coleta, só chegar e entregar ou enviar pelos correios no endereço “Rua Comendador Miró, 1399 – Centro – 84010-160 – Ponta Grossa – PR”

8- Para você, o que significa esse projeto?

Oportunidade, para os leitores, para os voluntários, para os autores, para as empresas.
Leitores: de um bom livro a custo zero;
Voluntários: de fazer algo que pode mudar nosso mundo;
Autores: de ter leitores para seus livros;
Empresas: de fazer algo de útil para a sociedade.

9- O que você espera para o futuro do projeto?

Espalhar o Pegaí por outras cidades, mas com responsabilidade, seguindo o mesmo formato, sem desvirtuar do foco e da proposta inicial, estamos preparando um modelo, com manuais de procedimentos, responsabilidades para que outros possam nos ajudar a levar o Pegaí para outros cantos.

10- Com quantas obras o acervo do projeto conta atualmente?

Em maio contabilizamos 37 mil livros circulando pelas mãos de nossos leitores, isso representa mais de 50 livros por dia sendo “pego” para ser lido.

11- Em relação a vandalismo\ danos aos livros e suportes, isso já aconteceu ou preocupa você?

Isso aconteceu e acontece, pessoas escrevem nos livros, danificam, mas não podemos deixar de fazer o Pegaí por causa das minorias.

12- Quantos pontos de retiradas e entrega de livros o projeto conta atualmente?

Temos 13 estantes de disponibilização de livros e 39 pontos de coleta. No site do Pegaí tem lista completa com endereço e mapa de localização.
Nossa missão é “Aproximar livros sem leitores de leitores sem livros”.

*Idomar Augusto Cerutti é bacharel em Processamento de Dados, Especialista em Ciências da Computação, Mestre em Computação Aplicada e professor na Universidade Estadual de Ponta Grossa, no Departamento de Informática, nos cursos de Engenharia da Computação e Engenharia de Software, nas disciplinas de projeto e linguagens de programação.


Por Priscila Magalhães Palmeira




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2 comentários

  1. Não conhecia este projeto.
    É sempre bom projetos que visam incentivar a cultura. Parabéns pela matéria.

    http://jotavieiraescultor01.blogspot.com.br/

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