Este não é um conto de natal



Tudo o que mais me entedia no mês de dezembro são os casais apaixonados. Parece que nessa época do mês as pessoas sentem a necessidade de estar apaixonado e sair por aí distribuindo amor aos sete ventos, não me leve a mal, eu amo o natal e todas as coisas boas que ele representa, eu só não consigo amar a maneira como as pessoas amam se amar no natal. Tudo bem, essa frase está parecendo demasiado confusa, mas também, como alguém espera que eu raciocine de maneira clara em uma loja cheia de gente e de casais insistindo em entrar aqui com um copo gigantesco de Milk-shake, passando ao lado das camisas de seda, de uma grife supercara?
 O que piora tudo é o meu gerente me olhando de cara feia e dizendo que quem vai ter que pagar o prejuízo, se alguma daquelas camisas forem sujas, vai ser eu, porque eu é que estou sendo a responsável do setor e que ele esperava mais de mim, sem contar que eu deveria dar o meu melhor, já que esta estava sendo minha primeira semana como chefe de setor.
O que também não está ajudando é o fato de que o já citado gerente é bonito demais, com aqueles olhos caramelos e cílios negros tão longos que parecem cobrir as bochechas como um tapete, sem falar naqueles lábios carnudos que com certeza foram feitos...
- Melina, eu já não te mandei cuidar da droga do corredor das camisas de grife?
Olhei para o lado e vi o gerente de belos lábios me fuzilando com os olhos, imaginei suas orelhas ficando vermelhas e fumaça saindo de seus ouvidos. Fui incapaz de refrear a risadinha no maior estilo adolescente que escapou de minha boca.
- Melina! – Ele gritou colocando as mãos na cintura. – Será que você pode mexer esse seu traseiro e impedir que aquela criança abelhuda suje uma daquelas camisas?
Mordo o lábio e tiro os braços de cima da arara de bermudas de praia. Lançando um último olhar divertido ao gerente, vou atrás da criança e falo com gentileza para ela tomar o sorvete nos banquinhos da recepção, depois de resolver mais esse problema volto ao meu posto.
- Melina! – O gerente grita meu nome mais uma vez e eu conto até mil em latim para não voar em seu pescoço e enterrar as unhas naquela pele macia que com certeza cheira a perfume caro e sabonete.
- O que foi agora? – Resmungo ao chegar ao balcão onde ele se encontra.
- Só queria dizer que você está dispensada – ele dá um sorriso amarelo e meu estômago dá uma cambalhota.
Será que aquele estúpido seria capaz de me despedir na véspera de natal, e todo aquele mutualismo amoroso e boas ações onde ficam?
- Você está me despedindo? – Pergunto de maneira humilde, cruzando os braços.
- Claro que não! – Ele exclamou, parecendo espantado. – É que já são cinco horas e a loja já está fechando, então você pode sair.
Descruzei os braços e soltei o ar do pulmão.
- Ah, então tá bom.
Virei às costas, mas quando estava prestes a ir em direção ao meu armário para pegar minha bolsa, minha cintura foi enlaçada.
- E... Melina – o gerente me virou e me prendeu contra seu corpo.
- O que foi? – Perguntei tentando não observar a maneira como a camisa vermelha do uniforme se ajustava em seu corpo.
- Eu estava pensando se você não quer tomar alguma coisa comigo antes de ir para casa. Só para comemorar o natal.
 A maneira como ele hesitou foi fofa e tudo o que eu fiz foi sorrir, porque afinal de contas, era natal e todo o mutualismo amoroso ainda estava no ar.

Jariane Ribeiro


3 comentários via Blogger
comentários via Facebook

3 comentários

  1. Muito bom Jariane!!!

    E que melhor do que o clima de natal, rs, o ano novo possa vir cheio alegria e sucesos pra você!

    Beijos!
    http://viaspensantes.blogspot.com.br

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. A Jariane escreve super bem né? Sucessos para você e seja bem vindo ao blog sempre!

      Eliminar